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Wednesday, December 7, 2016
Belo Monte: Depois da Inundação
Turiaçu. Clima é de apreensão
A Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, na região central do Maranhão, volta a ser palco de investidas violentas de madeireiros ilegais.
Guardas florestais do grupo de vigilância Ka’apor encontraram quatro invasores armados no interior da TI. Os homens foram imobilizados e expulsos pelos indígenas. Agora, os Ka'apor temem a reação de madeireiros a qualquer momento.
Desde 2013, de forma coordenada, lideranças indígenas Ka’apor têm feito a vigilância de suas terras para evitar o avanço do desmatamento e a abertura de novos ramais de transporte de madeira ilegal. Ramais e trilhas com maior movimentação de madeireiros e caçadores estão permanentemente ocupados pelos Ka’apor com novas aldeias, ou áreas de proteção, para facilitar a vigilância.
A área sofre constante assédio por parte de madeireiros ilegais. Há cinco dias, outro grupo de invasores teve quatro motos confiscadas dentro do território e posteriormente devolvidas.
Relatos da região dão conta de que invasores armados espreitam nas estradas de acesso às aldeias. Até o momento, policia civil do município de Zé Doca, que foi contatada, não apareceu.
O temor na região é que haja invasão do território a qualquer momento e que os episódios de violência, já sofridos pelos Ka´apor, possa se repetir. Em abril de 2015, o indígena Eusébio Ka'apor foi assassinado enquanto voltava de uma visita a cidade vizinha. Desde então, a região tornou-se palco de um grave conflito. Em dezembro do ano passado um ataque a uma das aldeias dos Ka’apor deixou dois índios baleados.
Lançamento de documentário sobre uma das obras mais controversas do mundo conta com a presença de diversos povos indígenas ameaçados pela construção de hidrelétricas
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“Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. Então nós vamos levar Belo Monte para o conhecimento de todos”. Esse é Todd Southgate, diretor do documentário Belo Monte: Depois da Inundação, lançado ontem (5) em Brasília na presença de seus protagonistas: os povos indígenas do Rio Xingu, barrado pela infâme construção. Também participaram outros povos ameaçados pela produção de energia, que habitam os rios Madeira, Tapajós, Teles Pires e Juruena.
Antes do início do filme, que explora a história e consequência de uma das obras mais violentas e controversas do mundo, foi apresentado um estudo de impactos econômicos caso a Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós, fosse construída. No total, R$1,9 bilhão seriam perdidos em impactos não avaliados pelos estudos do governo, como perda de renda de subsistência, piora da qualidade d’água e aumento de gases de efeito estufa com a criação do reservatório.
Com a exibição do documentário, foi provado que nenhuma dessas perdas é novidade para aqueles que moram da região da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Muitos vieram às lágrimas vendo a triste realidade que se instalou ao redor de todo o Rio Xingu. “Eu não tinha noção da amplitude dessa tragédia. Todo brasileiro tem que saber disso”, disse, emocionada, a atriz e comediante Maria Paula Fidalgo. Saiba mais sobre o filme aqui, que será disponibilizado online em breve.
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Seguiu-se então um debate com a presença de Antônia Melo e Raimunda Silva, do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, cacique Gillard Juruna, do Xingu, cacique Juarez Munduruku, do Tapajós, Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, Felício Pontes, procurador da República, Todd Southgate e Philip Fearnside, cientista.
“Esse é um projeto sem fins lucrativos, feito para não deixar Belo Monte cair no esquecimento. Não é entretenimento, é uma ferramenta de resistência para todos os impactados pela obra e também para quem vai ser impactado por outro projeto semelhante”, defendeu Southgate.
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Convidados e organizadores posam para foto após a exibição de estreia do documentário (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Para Antônia Melo, Belo Monte é um crime, que além de tudo agora está atraindo a mineração para o local. “É muita falta de informação. E o filme ajuda com isso. Não há dinheiro que domine um povo consciente”.
Segundo Sônia Guajajara, a resistência contra Belo Monte não é apenas regional, mas nacional e também mundial. “Precisamos fortalecer ainda mais essa aliança que foi criada entre índios, ribeirinhos, organizações, advogados e cientistas”, disse ela.
Por sua vez, o cacique Gillard Juruna contou como perdeu seu irmão pescador recentemente por conta de equipamentos de péssima qualidade da Norte Energia e o cacique Juarez Munduruku chamou atenção para as recentes investidas do poder público: “o governo está vindo com tudo. [A usina de] Tapajós foi suspensa, mas pode voltar a qualquer momento. Eles não sabem que os Munduruku não têm divisão com a floresta, os animais ou o rio. Nós somos o Tapajós”.
O procurador da República, Felício Pontes, ressaltou: “Belo Monte tem que servir de exemplo do que não pode mais acontecer”.
Com produção da International Rivers, Amazon Watch e Todd Southgate, e narração de Marcos Palmeira, o documentário foi premiado como melhor filme no júri popular do Festival Cine Amazônia.
Seguindo a programação, hoje (6) um seminário sobre Hidrelétricas na Amazônia, Conflitos Socioambientais e Caminhos Alternativos está tendo lugar na Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento, composto por três mesas de debate com diversos especialistas no tema, pode ser acompanhado por transmissão ao vivo.
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