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Wednesday, November 9, 2016
Primeira regra dos buracos: quando estiver em um, pare de cavar
No mundo todo, a indústria do carvão está desesperadamente tentando desafiar as leis da física. Ela quer nos fazer acreditar que, se estivermos num buraco, é só continuar cavando para sair dele. Ainda bem que o ECO teve um excelente professor de física e tem um conselho mais sensato: quanto estiver num buraco, pare de cavar.
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Agora que o Acordo de Paris já foi assinado por 193 países e ratificado por mais de 100, o recado está muito claro: a era dos combustíveis fósseis acabou. Mas parece que nem todo mundo entendeu o recado, pois em alguns países o lobby do carvão é teimoso e acredita poder prorrogar o inevitável. Tomemos o Brasil como exemplo.
O Brasil gosta de se vangloriar por ser campeão do clima, mas o Congresso do país acaba de aprovar um subsídio de um bilhão de dólares para a indústria do carvão. Tão problemático quanto, isso surge num momento em que o carvão representa menos de 5% da geração de eletricidade no Brasil, porém mais de 20% das emissões. Será que alguém no Congresso brasileiro fez as contas?
A indústria do carvão gasta uma fortuna fazendo lobby. Mas o Presidente Michel Temer tem a oportunidade de vetar esse subsídio, desejo esse expressado por dezenas de milhares de brasileiros. O mundo está de olho e espera ações importantes de um país que poderia ser um dos primeiros a alcançar 100% de energia renovável.
Mas não é só no Brasil que o carvão ainda sonha com um futuro. Recentemente, a revista Forbes afirmou que o Japão “reatou um romance com o carvão”, com mais de 40 novas usinas sendo construídas, planejadas ou propostas para antes de 2020. Se implementadas, seria um pesadelo para o clima.
Talvez seja até pior, já que a paixão reatada por Tóquio não fica confinada ao país. Como maior fonte mundial de financiamento público para projetos de carvão, o Japão investiu mais de US$ 22 bilhões no exterior, de 2007 a 2015, incluindo o financiamento de diversos projetos de carvão propostos – esperem só! – no Brasil. Está na hora de o Japão acordar, se adequar aos novos tempos e parar de financiar o passado dos imundos combustíveis fósseis, tanto no próprio país quanto no exterior.
A situação da Turquia é igualmente doentia. Ontem, o país ganhou na COP 22 o primeiro prêmio Fóssil do Dia, em parte devido aos planos absurdos de construir 70 novas usinas de carvão, que acrescentariam mais de 70 GW de capacidade de energia suja. Só de escrever essa frase, o ECO fica com enjoo. Não importa como se fazem cortes, mas essa negação ostensiva da física é ruim; é um remédio ruim para um clima doente. Se a Turquia quiser ser levada a sério, precisa ter lições corretivas e voltar a andar nos trilhos dos renováveis. Os financiadores do carvão que investem no país e na região dos Balcãs são peixes grandes: em grande parte, é dinheiro chinês que passa por diferentes bancos de desenvolvimento.
No mundo todo, a indústria do carvão está desesperadamente tentando desafiar as leis da física. Ela quer nos fazer acreditar que, se estivermos num buraco, é só continuar cavando para sair dele. Ainda bem que o ECO teve um excelente professor de física e tem um conselho mais sensato: quanto estiver num buraco, pare de cavar. Uma coisa é certa: para cumprir a promessa do Acordo de Paris, cada país precisa ser mais ambicioso com suas metas de redução de emissões. E se livrar do carvão imundo seria uma ótima maneira de começar.
*Pedro Telles, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Este texto foi originalmente publicado no boletim ECO, publicado pela Climate Action Network (CAN) durante a 22a Conferência do Clima, no Marrocos.
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