Rosana Villar
Relatório recém-divulgado do IPCC reforça: proteger as florestas do planeta é uma das formas mais baratas de combater o aquecimento global
Tem quem ainda prefira tapar o sol com a peneira, mas nos últimos anos as mudanças climáticas passaram de “previsão” para fato consumado, e o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado nesta segunda-feira (20), alerta, mais uma vez, para a urgência da situação: essas mudanças são sem dúvida causadas pela ação humana e seus efeitos já chegaram, e antes do previsto.
Os principais cientistas climáticos do mundo apontam que temos pouco tempo para agir, mas que ainda podemos implementar ações por todo o planeta para reverter ou pelo menos retardar esses impactos, e uma destas soluções, considerada uma das formas mais rápidas e baratas de combater as alterações do clima, é proteger as florestas.
Por isso, hoje, no Dia Internacional das Florestas, vamos te contar o que elas têm a ver com o clima e por que elas são tão especiais para a vida. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 30% da área terrestre da Terra é coberta por florestas. São 4,06 bilhões de hectares, sendo que mais da metade das florestas do mundo são encontradas em apenas cinco países: Brasil, Canadá, China, Rússia e Estados Unidos.
Muita gente deve saber que as florestas são importantes para a manutenção da biodiversidade, a produção de oxigênio, a regulação do clima local e que contribuem com o ciclo da água. Mas o que pouca gente sabe é que, além de transformarem gás carbônico (CO²) em oxigênio, as florestas guardam em suas plantas e em seu solo uma enorme quantidade de carbono.
Então, quando destruímos uma floresta, além de perder grande parte da biodiversidade local e todos os serviços ecossistêmicos que elas nos fornecem, ainda liberamos milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Atualmente, a mudança do uso do solo – quando há desmatamento e queima de florestas para uso da terra para outras atividades – aliada à agropecuária de larga escala são as principais fontes de emissões de gases do efeito estufa do mundo, superando até a queima de combustíveis fósseis e transporte (IPCC, 2019).
Por aqui, a situação é ainda pior: o desmatamento corresponde a quase metade de todas as emissões do Brasil (49%, segundo o SEEG), figurando como a principal fonte de emissão de gases do efeito estufa e colocando nosso país como o 4º maior emissor do mundo. Pois é, não estamos brincando quando dizemos que alcançar o Desmatamento Zero é URGENTE.
O que o IPCC diz sobre as florestas
Segundo o relatório do Grupo de Trabalho 3 sobre mitigação do IPCC, publicado em abril de 2022, as soluções para pelo menos reduzir pela metade as emissões globais em apenas oito anos e caminhar para emissões zero já existem e mais da metade dessas soluções para ação imediata vêm com custos baixos ou inexistentes, como o combate ao desmatamento. Já pensou, combater a crise climática apenas deixando de derrubar árvores?
Mas claro, trata-se de nos livrarmos dos combustíveis fósseis o mais rápido possível e, ao mesmo tempo, focarmos em evitar que florestas sejam desmatadas e em estimular um sistema alimentar que gera menos impactos ao meio ambiente. De acordo com os cientistas, cerca de um terço dos cortes líquidos de emissões até 2030 pode vir do setor de terras e florestas, inclusive por meio da restauração e proteção de florestas e outros ecossistemas naturais.
Proteger as florestas também é fundamental para a biodiversidade global, que enfrenta outra grande crise. Alguns cientistas consideram até que estamos vivendo a sexta extinção em massa.
Embora a manutenção de florestas só traga benefícios, estima-se que desde 1990 o planeta perdeu 420 milhões de hectares de floresta devido à conversão para outros usos da terra, onde a expansão agropecuária ocupa o papel principal como motor do desmatamento, da fragmentação florestal e da perda associada de biodiversidade florestal. A agropecuária comercial em larga escala (principalmente a pecuária e o cultivo de soja e palma) foi responsável por 40% do desmatamento tropical entre 2000 e 2010, segundo relatório da ONU.
De norte a sul, estamos perdendo nossas florestas, para que poucos possam lucrar. No Canadá, a floresta boreal está sendo destruída para exploração de madeira. No sul global, as florestas tropicais da Bacia do Congo, da Indonésia e a Amazônia vêm sendo destruídas para dar lugar à exploração de madeira, ao óleo de palma e à pecuária. Na Rússia, nos Estados Unidos, Grécia e Turquia as florestas vêm sendo consumidas pelo fogo ano após ano, devido a alterações no clima. Isso tudo tem um preço para o restante da humanidade e para toda a vida na Terra.
Os próximos anos são provavelmente os mais importantes da nossa história. Proteger as florestas não é mais uma opção, é uma necessidade. Mas precisamos ir além, é preciso que governos do mundo todo se comprometam com políticas de proteção e restauração de ecossistemas florestais. Salvar as florestas do mundo é bom demais!