Por mais de 20 anos, nosso maior navio iluminou a escuridão na luta para proteger o meio ambiente, mesmo nos locais mais remotos. Suas viagens chegaram ao fim, deixando um orgulhoso legado de inspiração e proteção ambiental, inclusive no Brasil, mas manteremos seu propósito vivo
Ao longo de duas décadas, a tripulação do Esperanza enfrentou a pesca pirata e os arpões baleeiros das regiões polares à África Ocidental. Uniram-se cientistas e jornalistas para revelar atividades ilegais, realizar estudos inovadores e documentar as mais belas imagens do nosso planeta. O Esperanza defendeu o meio ambiente em nome das pessoas e do planeta contra aqueles que colocam o lucro e o poder à frente de tudo. Agora, chegou sua hora de descansar.
O ‘Espy’, como é carinhosamente conhecido dentro do Greenpeace, levou nossos ativistas para partes do mundo que são inacessíveis para a maioria das pessoas. Muitas vezes, é nessas áreas mais remotas que ocorrem os piores crimes ambientais e humanitários. Ele também já foi usado para levar ajuda humanitária aos necessitados após o terremoto no Haiti, em 2010, e o tufão Bopha, de 2012, que devastou partes das Filipinas. Em 2017, fez história ao revelar as primeiras imagens dos Corais da Amazônia, um bioma marinho improvável de existir na bacia da foz do rio Amazonas, e totalmente desconhecido da humanidade. Relembre essa aventura no vídeo abaixo:
Na sua passagem pelo Brasil, os moradores de Belém puderam visitá-lo, incluíndo pessoal do Manual do Mundo, que mostrou os detalhes da embarcação em um vídeo do canal. Após sua segunda expedição pelos Corais da Amazônia, o Esperanza foi acusado injustamente pelo antiministro do meio ambiente, Ricardo Salles de estar envolvido no derramamento de óleo que atingiu o litoral brasileiro em 2019, quem se lembra? Até hoje este crime aguarda explicações e a punição dos responsáveis.
Como o navio mais rápido da frota do Greenpeace, o Esperanza frequentemente foi usado para perseguir embarcações de alta velocidade e enfrentar criminosos ambientais que poucos conseguiam capturar. Por ser classe de gelo, ele levou essas lutas para as águas geladas da Antártida em inúmeras expedições polares. Foi, e sempre será, um símbolo de esperança, nascido do apoio de milhões de pessoas em todo o mundo, e colocado em ação por aqueles que arriscaram sua segurança e vidas para enfrentar probabilidades impossíveis de proteger nosso meio ambiente.
Agora, o Esperanza chegou à sua última parada no porto de Gijón, na Espanha, para ser aposentado definitivamente. À medida que o mundo muda, as operações marítimas do Greenpeace também devem mudar. O Esperanza, mesmo com acionamento elétrico, tinha uma pegada de carbono muito maior do que nossas outras embarcações e, apesar dos esforços constantes para aprimorar e melhorar as características técnicas do navio, sua biologia fundamental não permite ser consistente com a visão do Greenpeace para um futuro de zero carbono.
Ao longo dos anos, a tripulação do Esperanza lançou aviões, helicópteros e submarinos movidos a energia solar de seu convés e deu ao navio muitas reformas verdes desde o início de suas operações, mas em meio a uma emergência climática com crimes ambientais ainda sendo cometidos, o Greenpeace precisa liderar a redução de emissões de carbono e, ao mesmo tempo, encontrar recursos marítimos mais flexíveis que nos permitam levar a luta a lugares remotos que poucos podem ir.
Assim, o Esperanza será reciclado adotando os mais altos padrões ambientais, mas seu espírito e a esperança que ele representa continuarão vivos na luta contínua para proteger nossa frágil Terra.
A esperança flutua
Antes de se juntar à frota do Greenpeace em 2000, o navio, que começou a vida como um navio russo de combate a incêndios, era conhecido como ‘Echo Fighter’. As primeiras tripulações do Greenpeace a bordo pintaram o ‘h’ para soletrar ‘Eco Fighter’, mas quando a organização começou a primeira reforma ecológica da embarcação, uma votação online foi convocada para escolher seu nome permanente. Milhares de ativistas na Argentina e em outros países hispânicos viram uma oportunidade histórica para o primeiro navio do Greenpeace com um nome espanhol. Reunindo seu entusiasmo pela ação no mar e o ativismo digital emergente da época, eles inundaram a votação com um nome: ‘Esperanza’.
Alguns belos momentos do Esperanza
Por mais de duas décadas, a história do Esperanza tem sido a soma das ações de sua talentosa e dedicada equipe, os bravos ativistas e voluntários que o chamaram de lar, as equipes que ajudaram a entregar esperança em ação através de campanhas e os apoiadores que trouxeram o Esperanza para a frota do Greenpeace, o nomearam e o acompanharam em sua jornada.
O Esperanza tem centenas de milhares, senão milhões de pessoas a agradecer. Talvez seja apropriado que o destino final do navio seja em um país de língua espanhola: a língua de nascimento de seu nome.
A essas pessoas, e a todos vocês, que levaram a luz da esperança em seus corações, dizemos “gracias”. Embora não saibamos com certeza todos os lugares em que a luz será necessária no futuro, sabemos que ela nunca será extinta e levaremos aonde quer que ela precise ir, juntos.
Costuma-se dizer que um navio é muito mais do que a construção física: compreende o coração e a alma das pessoas que o fazem navegar. Como disse o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry:
“Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira ou atribua-lhes tarefas e trabalho, mas sim ensine-as a desejar a infinita imensidão do oceano.”