Munduruku realizam a sinalização de seu território (©Anderson Barbosa/Greenpeace)
Na última segunda-feira cheguei a aldeia Sawré Muybu para me unir aos outros ativistas do Greenpeace na campanha para salvar o coração da Amazônia. É minha segunda vez aqui, mas agora há um sentimento diferente no ar, uma euforia que vem junto com a esperança de que o trabalho que estamos fazendo sirva para ampliar a voz dos Munduruku em sua luta contra a construção de uma grande hidrelétrica em seu Rio da Vida. Foram quase três anos de trabalho e alguns meses de preparação para chegarmos até aqui e agora, finalmente, podemos ver as coisas acontecerem.
Na manhã do meu segundo dia acompanhamos os Munduruku em uma atividade na mata. Eles estão instalando placas para sinalizar seu território, que eles mesmo demarcaram, cansados de esperar uma ação do governo. Cinco barcos repletos de guerreiros e famílias Munduruku seguiram até o local, por um imponente Rio Tapajós de águas esverdeadas.
Para alguns pode ser só uma placa, mas para o povo Munduruku é muito mais que isso. Simboliza o início de uma nova fase de sua longa luta, mas em um nível totalmente diferente.
Ontem trabalhava sozinho tarde da noite, no escritório de palha construído para receber ativistas e jornalistas na aldeia,  quando três adolescentes Munduruku chegaram ao barracão e começaram a olhar curiosos um quadro, onde colamos as imagens das ações que realizamos na Alemanha e na Holanda, em que utilizamos um banner que eles pintaram com suas mãos há mais ou menos oito semanas (e que está agora com a Siemens, em Munique). Expliquei para elas o que havia acontecido, que a Sandra, uma campaigner do Greenpeace Alemanha, falou com o chefe do Siemens sobre Tapajós e sobre a luta deles contra a usina e pediu para a empresa não se envolver no projeto.

Munduruku preparam faixa para protesto contra hidrelétricas (© Rogério Assis/Greenpeace)
Os três adolescentes estavam felizes. Talvez começando a compreender que todo o trabalho é conectado e que muitas pessoas do Greenpeace pelo mundo estão trabalhando para ‎apoia-los e para proteger a Amazônia
Parece que a ficha caiu, vi um sorriso nas rostos deles, e sinto fluir nas minhas veias a energia para continuar nosso trabalho aqui, juntos.
Foi um momento importante para mim. É em horas como essas que vemos que todo o trabalho valeu a pena. Tem tanta gente que pode fazer o bem, e nós podemos usar nosso tamanho e influência para divulgar uma historia tão importante quanto esta. Pois não viemos aqui para fazer o trabalho, viemos para apoiar a luta dos Munduruku, e isso me deixa muito feliz.
Acho que em alguns anos vamos olhar para esse momento com um sorriso no rosto, contando muitas histórias, de quando começamos nossa jornada aqui.
*Oliver Salge é da Campanha da Amazônia do Greenpeace