Monday, April 2, 2012

Árvores no chão


Quando o comboio com a equipe do Greenpeace saiu de Santarém, todos sabiam a história que encontraríamos: floresta amazônica derrubada. Moradores do Assentamento Corta Corda, na região do Rio Curuá-Una, a 140 quilômetros da cidade, já haviam denunciado que madeireiras atuavam ali sem o seu consentimento. Não era a primeira vez.
Fomos checar e, com a ajuda do nosso avião, vimos muitas toras estocadas em pátios abertos no meio da mata. Os satélites não conseguem pegar facilmente esse tipo de corte, o que facilita o trabalho de quem quer se esconder. Não existe nenhuma autorização de manejo nos sistemas oficiais.Quando chegamos ao município na semana passada, com o navio Rainbow Warrior, percebemos o tráfego intenso de caminhões carregados com madeira e vazios pelo município e nas imediações. E isso que é “inverno” na Amazônia, quando chove muito, as estradas ficam enlameadas e o trabalho no meio da floresta é mais difícil.
Por três noites seguidas, monitoramos o tráfego noturno. O trabalho ali ferve (operações lícitas não precisam acontecer no escuro, certo?). Ontem de manhã, quando saímos para documentar a situação por terra, tínhamos certeza que a imagem seria de destruição.
No caminho, que incluiu uma longa estrada de terra e uma balsa, cruzamos com jipes de pessoas vestindo camisetas da associação local de madeireiros. Ao chegar, deixamos os carros e seguimos a pé uma subida de 500 metros. Nosso avião, que nos sobrevoava, viu que perto da entrada havia um pátio cheio. É praxe que uma madeireira tenha vários pátios para estocagem de toras num amplo raio de atuação.
Não havia viv’alma na madeireira em questão – os únicos seres vivos ali eram árvores com dezenas de metros de altura, que faziam sombra em toras recém-cortadas empilhadas.
O cenário era desolador. A lama cobria o chão e era possível ver marcas recentes de trator. Pilhas e pilhas de toras se seguiam, cada uma com pelo menos quatro metros de altura. Algumas estavam dentro da floresta, meio escondidas. Uma chuva forte caiu naquele momento, aumentando a tristeza.
O processo de degradação da floresta começa assim: uma árvore de cada vez, com média de 20 a 40 metros cada, cai com a motosserra, é cortada em toras e carregada em caminhões. Depois segue para serrarias e empresas que compram a madeira, que a envia para mercados nacionais e internacionais. Quando a árvore é cortada ilegalmente, nesse processo é “esquentada”, misturando-a com madeira retirada com autorização.
O que fica para trás é uma floresta mais vazia, mexida, degradada. É o começo do fim.
Você pode fazer alguma coisa para evitar o fim da floresta. Assine a petição pela lei do Desmatamento Zero e compartilhe a iniciativa com seus amigos.
*Cristina Amorim está a bordo do Rainbow Warrior;Fonte,Greenpeace

No comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.