População pede o fim da devastação das florestas do Brasil durante a Mobilização Pelo Clima, em São Paulo. (©Zé Gabriel/Greenpeace)

A Conferência do Clima da ONU começou hoje (30/11), em Paris, já com a presença e discursos dos principais líderes de governo do mundo. Dilma Rousseff esteve entre eles.

A presidente levantou alguns pontos importantes e positivos para as negociações, que devem culminar com um acordo global para barrar as mudanças climáticas. Um por exemplo, foi o pedido para que as promessas apresentadas na capital francesa tivessem a força de leis e tragam números concretos. Dessa forma, daqui a alguns anos, poderemos cobrar que as metas prometidas virem realidade em cada nação envolvida nas negociações.

Dilma citou também que os países devem fazer uma de revisão dessas promessas a cada cinco anos. Assim, poderemos avaliar se estamos no caminho correto, tendo a chance de corrigir ou aumentar o grau de ambição das metas. Na outra ponta da linha, o governo deu a uma “derrapada na curva”. Primeiro ao enfatizar que a promessa entregue na COP é muito avançada, pois irá reduzir o desmatamento e expandir o uso de energia renováveis. Não vai. O que o governo vende como proposta para proteção das florestas, nada mais é do que a afirmação de que irá seguir a lei já vigente. E não dá para imaginar que o governo fizesse algo diferente do que cumprir a própria legislação. No setor de energias renováveis também não apresentou avanços. Se seguirmos a cartilha do que foi prometido, chegamos daqui a 15 anos com praticamente o mesmo percentual de energias renováveis que temos hoje.
Precisamos que considerar que há uma certa diferença entre o que se faz e o que se fala no governo brasileiro. A devastação da floresta amazônica, ponto central da proposta do nosso país, aumentou 16% no último ano, segundo levantamento mais recente. Enquanto a vegetação é destruída, nossos governantes ignoram o apelo de boa parte da população pelo desmatamento zero. Na área energética, o plano de investimentos anunciado para os próximos 10 anos (chamado PDE) prevê que 70% dos recursos do setor sejam direcionandos para fontes sujas, como as termelétricas. É um cenário bem diferente do que está anunciado na COP.
Além da diferença entre discurso e prática, a presidente citou que o país está oferecendo mais do que seria de sua responsabilidade. Esse tipo de discurso é ruim para as negociações. Se cada líder presente em Paris fizer apenas o que acha que é seu por dever, o mundo seguirá rumo ao aquecimento. E a vida de milhões de pessoas, principalmente as que estão em países pobres, estará em risco.
O Brasil, aliás, poderia (e deveria) fazer muito mais do que tem apresentado de promessas até agora – e isso seria bom não só para evitar as mudanças climáticas. Zerar o desmatamento de forma total (e não só o ilegal) ajudaria a estabilidade do clima e segurança hídrica de nosso país. Isso é essencial para a produção de alimentos e para a geração de riquezas. Promover verdadeiramente as energias renováveis, como a solar e a eólica, significa a economia na conta de luz de cada cidadão e, ainda, é uma enorme oportunidade de geração de emprego.
Ousar mais em nossos compromissos ambientais não é um favor que fazemos ao planeta. Significa oportunidades – e das boas – para nós mesmos. A falta de coragem do governo nos faz perder boas oportunidades, e deixa passar ao largo a chance de sermos um exemplo global a ser seguido na área ambiental.