Sociedade civil se organizou para lançar uma meta ambiciosa para conter as crise climática que já impacta a população.

manifestante levanta cartaz "Sem floresta sem futuro"
Ativista em Greve Global pelo Clima de 2019 em São Paulo. © Barbara Veiga / Greenpeace

O governo brasileiro precisa atualizar suas contribuições nacionais ao Acordo de Paris ainda neste ano, com validade até 2030. E suas metas precisam ser mais ambiciosas. Em 2018, o relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, alertou para a urgência da contribuição dos países em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e mostrou que o compromisso assumido no Acordo de Paris não será suficiente para conter a temperatura do planeta a 1,5 grau Celsius até o fim do século. 

A sociedade civil, por meio do Observatório do Clima (rede de quase 60 organizações), escreveu e deixou pronto o que deveria ser uma meta mais ambiciosa para conter a emergência climática. A revisão foi produzida por renomados pesquisadores brasileiros,  e elaborada por Carlos Rittl, pesquisador-visitante do IASS-Potsdam e membro fundador do LabOC, e Mark Lutes, conselheiro-sênior de Política Global de Clima do WWF. Em 2015, o Observatório já tinha produzido o que foi a primeira contribuição nacional feita pela sociedade civil do mundo. Dessa vez, houve uma revisão, assim como será necessário que o governo federal faça ainda em 2020.

Se quisermos conter o aquecimento global a 1,5 graus Celsius até o fim do século, defendemos que o Brasil se comprometa com uma redução de emissões líquidas de gases de efeito estufa de 81% até 2030 em relação aos níveis de 2005. A proposta foi apresentada na segunda-feira (7/12) pelo Observatório do Clima e representa um salto dos 37% de redução nas emissões líquidas em relação aos níveis de 2005 até o ano 2025, ou seja, 1,3 bilhão de toneladas líquidas de gás carbônico da meta atual, ou em relação à meta indicativa para a nova NDC brasileira (43% de redução até 2030, ou 1,2 bilhão de toneladas).

Na contramão dos deveres do governo federal para conter essa crise, o que vimos nos dois últimos anos foi uma aumento recorde no desmatamento da Amazônia: equivalente a 7,29 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, atingindo 11.088 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. Os dados são do PRODES, divulgados em 30 de novembro, e indicam um aumento de 9,5% no desmatamento do bioma, o maior índice desde 2008. O uso da terra representa mais de 40% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, e os números alarmantes  comprovam que o Brasil não está cumprindo sua Política Nacional de Mudanças Climáticas.

É urgente, portanto, que o governo brasileiro se comprometa de verdade com a redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa. Somos hoje o sexto maior emissor e contribuidor para a crise do clima. O governo deve pensar em políticas públicas socioambientais que também levem em consideração as desigualdades e o racismo ambiental. 

O amanhã se resolve hoje e não se comprometer com a contenção da crise do clima significa não garantir os direitos de nossas futuras gerações.