Com as regras aprovadas na Conferência de Clima da ONU demos mais um passo para conter as mudanças climáticas, quando deveríamos dar um salto à distância
Mensagem projetada com laser no telhado no edifício da COP24 © Konrad Konstantynowicz
Ativistas do Greenpeace projetam mensagem no edifício da COP24, na Polônia: “Políticos falam, líderes agem” © Konrad Konstantynowicz
Apenas dois meses atrás os cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, foram claros no sentido de urgência: temos 12 anos para preservar o mundo que conhecemos e no qual conseguimos viver com estabilidade – e isso exige medidas sem precedentes. A COP24 (24aConferência das Partes pelo Clima) era o esperado encontro para determinar como será este caminho e qual a responsabilidade dos países mais ricos e dos mais pobres. Pois o encontro terminou com as regras definidas, mas sem nenhuma promessa clara de uma ação climática justa.
A grande missão dos diplomatas em Katowice, na Polônia, era garantir um “Livro de Regras” forte e ambicioso, ou seja, medidas necessárias para colocar em prática o Acordo de Paris que havia sido aprovado pelos 195 países da ONU, em 2015. Essas regras, como mecanismos de transparência, atualização de metas e outros processos, devem direcionar os governos para uma nova era econômica e social em que as nações, ricas e pobres, terão que diminuir as emissões de gases de efeito estufa radicalmente para assim proteger a vida das gerações atuais, que já estão sendo afetadas hoje, e das futuras que estão por vir.
As reuniões técnicas para discutir o Livro de Regras levaram as duas semanas da Conferência. Foram dias sem interrupção de negociações e, nos últimos dias, ministros dos diversos países chegaram para acrescentar a camada política. A aprovação foi concluída em uma gelada noite de sábado.
Enquanto a urgência bate à porta, negociadores delongavam as reuniões e agiam como se seus problemas políticos e econômicos domésticos fossem mais importantes que a cooperação conjunta para mudar o curso da degradação ambiental e social. Por isso, sem fazer parte das negociações em si, organizações como o Greenpeace lembravam constantemente os governantes do porquê estavam todos ali – para que aquela ação humana coletiva revertesse a ação individual e competitiva do passado, na qual florestas foram devastadas e energias sujas como carvão e petróleo foram usadas sem respeito ao meio ambiente e as pessoas.
Ativista em caiaque segura um banner pedindo mais ação climática, em frente à torre Eiffel. © Jean Nicholas Guillo
Ativistas do Greenpeace pedem por mais ação contra o aquecimento global no rio Sena, em Paris, onde 195 países aprovaram um acordo global de limitar o aumento da temperatura da Terra em menos de 2 graus © Jean Nicholas Guillo
No final, o “Livro de Regras” não contém a ambição necessária para que o aquecimento global não ultrapasse o 1.5 oC. Não há compromisso claro e coletivo para aumentar as metas de ação climática. Por isso, será necessário um esforço maior dos países, sobretudo de rever suas próprias metas de redução de emissões – as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Assim, quando o Acordo de Paris entrar em vigor, em 2020, poderia haver vontade nacional de melhorar, apesar das regras pouco ambiciosas.
A luta agora prossegue no chão. Para além de Katowice e da COP24, estão as pessoas que vivem a luta de cada dia por uma vida digna, na busca por alimento saudável, água limpa, terra e moradia. Essas coisas dependem concretamente de como cuidamos do meio ambiente ao redor de cada um e do clima do planeta.
O Greenpeace prossegue na defesa diária para que nos aproximemos dessa realidade. Pedimos aos governos que reforcem a ação imediatamente e provem que ouviram as demandas das pessoas. O relatório do IPCC alertando para a urgência deve ser o apelo à ação – e uma ação que corresponda ao ritmo e à escala da ameaça.