Tuesday, April 24, 2018

Desvendando o setor norte dos Corais da Amazônia

Postado por Thais Herrero
Durante nossa expedição científica, vimos imagens da região dos Corais que é a menos conhecida pela ciência, porém, a mais ameaçada pela exploração petrolífera

Coral-mole e ao menos seis tipos de esponjas-do-mar são observados a 90 metros de profundidade, na área norte do recife dos Corais da Amazônia ©Greenpeace

Continuamos navegando pelo extremo norte dos mares do Brasil, a 135 quilômetros da costa do Oiapoque – o famoso ponto onde começa ou termina– nosso país; e a 90 metros de profundidade. Foi ali que encontramos uma boa amostra da biodiversidade que marca o recife dos Corais da Amazônia.
Fomos recebidos em nosso mergulho por peixes como o mariquita, corais (como o coral-negro e o coral-mole) e esponjas-do-mar. Aliás, são tantas, de tipos, cores e formas variadas, que podemos definir a área como um “recife de esponjas”.
Conjunto de esponjas-do-mar, estrela cesto e um peixe mariquita (Holocentrus adscencionis) ©Greenpeace


Agregação de esponja com briozoário rosa e alguns hidrozoários, invertebrados que formam colônias ©Greenpeace

Enquanto nosso veículo remotamente operado (ROV, na sigla em inglês) desbravava profundezas do Atlântico nunca vistas antes, nós a bordo do Esperanza acompanhávamos cada detalhe pelo monitor, na transmissão ao vivo do robô. Foi como acompanhar um desfile de carnaval, pelo encantamento visual. Sua chegada ao fundo do mar foi muito comemorada por todos e, quando a missão se encerrou e ele retornou com sucesso, a emoção não foi contida nos abraços.
Por mais de uma hora, vimos imagens que confirmavam o que a ciência e nós todos já sabemos: os Corais da Amazônia são um ecossistema incrível, especial, diferente do que já conhecemos e que por isso deve ser defendido da ganância das empresas petrolíferas que querem perfurar na região.

Recife em mancha, com diversas espécies de esponjas-do-mar e estrelas do mar ©Greenpeace

Maior do que se esperava
Esta expedição científica de 45 dias, com seis cientistas e vários equipamentos de ponta a bordo para mapeamento de relevo, coleta e análise de amostras entre outros dados, também tem o objtivo de aumentar nosso conhecimento sobre os Corais. Uma informação importante é a confirmação de que o tamanho do recife é bem maior do que se esperava. 
Até 2017, a estimativa dos Corais da Amazônia era de que ele se estendia por uma área de 9,5 mil quilômetros quadrados. Mas um novo estudo produzido a partir da primeira expedição que realizamos no ano passado, e publicado na revista científica Frontiers in Marine Science, confirma que essa área é, na verdade, de 56 mil quilômetros quadrados, ou seja, quase seis vezes maior do que se pensáva, tornando-o um dos maiores recifes do Brasil – e nós estamos comprovando isso agora!

Registro de coral-negro junto a esponjas-do-mar (Cinachyrella halientela) ©Greenpeace

O setor norte do recife é um lugar ainda mais especial: é onde os cientistas tiveram menos tempo para estudar, apesar de ser a região na qual o rio Amazonas exerce maior influência. A mistura de água doce replete de sedimentos com a água salgada do mar cria uma área com características próprias onde só os Corais da Amazônia conseguem sobreviver. Da Ponte de Comando do Esperanza, de onde temos uma visão privilegiada do navio, é possível notar como o mar aqui é azul escuro e, em dias de sol forte, ver a linha que divide a água do mar daquela misturada com a pluma do rio.

Conjunto de esponjas-do-mar e algas encontrados a 90 metros de profundidade ©Greenpeace

Ameaça do petróleo
O conhecimento aqui é a chave para entendermos o possível impacto de um vazamento de petróleo. O setor norte dos Corais da Amazônia é a área mais ameaçada pois nas suas proximidades estão os cinco blocos que a empresa francesa Total quer perfurar. Se esta companhia conseguir dar início a esse plano insano, colocará em risco a existência dos Corais e o bem-estar de toda a vida marinha que habita essa região.
Nesta expedição também estamos estudando as características da água do mar, sua temperatura, os microorganismos que a habitam e como as correntezas se comportam. Esse trabalho é crucial para que possamos prever o que aconteceria com uma tão temida mancha de petróleo, caso as empresas conseguissem a licença de operação. 
Lançamento do sonar, um dos equipamentos utilizados para mapear o leito marinho em busca do recife ©Marizilda Cruppe

“É um risco grande quando consideramos a rota e a força das correntezas, que espalhariam o óleo por esse setor. As chances de o petróleo chegar aqui, em caso de um vazamento, são altas”, diz Thiago Almeida, do Greenpeace Brasil, representante da campanha Defenda os Corais da Amazônia. “Só pela dificuldade que estamos tendo em colocar o ROV na água para fazer imagens, fica difícil imaginar como as petrolíferas podem acreditar que conseguiriam conter um derramamento de petróleo aqui”, completa.
O segredo dos Corais da Amazônia
Dias atrás, divulgamos a grande descoberta desta expedição: os Corais da Amazônia se estendem até um dos blocos da petrolífera Total. Isso invalida o Estudo de Impacto Ambiental da empresa, que afirmava que a área de recife mais próxima ficava a 8 km, e dá mais argumentos para que o Ibama e o governo brasileiro rejeitem a exploração de petróleo na bacia da foz do rio Amazonas.
O navio Esperanza em águas brasileiras durante a expedição científica na bacia da foz do rio Amazonas ©Marizilda Cruppe

Até o Ministério Público Federal no Amapá recomenda que o Ibama negue a licença para a Total. Em seu documento, o MPF alega que perfurar a área pode “resultar na destruição em larga escala do meio ambiente, configurando ecocídio – crime contra a humanidade sujeito à jurisdição do Tribunal Penal Internacional”.

Você pode participar deste grande esforço pela defesa dos Corais da Amazônia. Assine a compartilhe a petição e nos ajude a chegar aos 2 milhões de pessoas que querem a proteção desse tesouro natural.

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